"Amuleto" é o título desta minha mais recente obra, mesmo porque trata-se, literalmente, de um amuleto original e, portanto, energizado por anos a fio pela interação do homem com as forças da Natureza. A história desta obra é interessante e a mesma só foi possível ter sido feita a partir do momento em que um particular amigo, Antero Todesco, 80, decidiu presentear-me com uma carranca ligada a uma figa.
A carranca pertencia a um barco de pescadores e foi encontrada há mais de trinta anos na praia de uma ilha deserta na região de Peruíbe, no litoral paulista. Foi achada por Antero, meio que boiando entre as ondas do mar e ao mesmo tempo se arrastando sobre a areia. Foi durante uma patrulha que o mesmo fazia com os seus soldados enquanto comandante do Pelotão Florestal daquela região do litoral.
Os pescadores mais antigos costumavam colocar carrancas na proa dos barcos como forma de obter proteção e sorte durante as pescarias em alto mar. Esta, não se sabe por que, foi achada só, já sem nenhuma pintura. Coube a mim, depois de recebê-la como presente, pintá-la novamente e de acordo com as tradições de antigamente, ou seja, com diversas cores.
Na intenção de prestar-lhe o devido valor e a continuidade de sua missão, providenciei um nicho para este velho amuleto do mar, bem como tomei a liberdade de colocar alguns outros adereços que, em minha opinião, combinam bem com o objeto principal, sempre visando torná-lo ainda mais presente em qualquer ambiente em que estiver, quem sabe um dia de volta ao mar... Desta forma, depois de pintá-lo, coloquei um antigo rosário de mão na grande figa vermelha. E mais uns detalhes menores, mas que não passam desapercebidos no aconchego da mística peça, como o colar azul turquesa e as pequenas peças arrendondas esculpidas em osso sabe-se lá quando...
A tonalidade azul impera pela simples razão de ser a cor que simboliza algo em que a maioria dos humanos crê, mas não pode ver: o sobrenatural. (Fotos e texto: Walter Rinaldi).